Cultura à distância: o reforço na comunicação e na liderança

Juliana Gola
16 março 2021

Completamos um ano de pandemia e isolamento social neste mês. Nos adaptamos a novos ambientes de trabalho, à tela, às reuniões com gatos passando, cachorros latindo e crianças aparecendo, criamos estratégias para aproximar a equipe com jogos e happy hour à distância. O tempo passou e o mercado de trabalho seguiu seu fluxo, com trocas de comandos e profissionais saindo e entrando. Mas como será que a cultura organizacional é repassada para quem chega, sem a possibilidade do encontro presencial? Como líderes estão comandando seus times sem conhecê-los de perto?

Uma matéria escrita pelas jornalistas Luciana Dyniewicz e Renée Pereira para o Estadão conta as experiências de CEOs que assumiram o posto sem pisar no escritório. Segundo ela, a comunicação é o ponto chave para que o andamento das demandas seja o melhor possível. “Se eu já conhecesse todo mundo antes, estaria em casa gerenciando com menos risco de errar. Como não conheço, tenho de fazer muitas reuniões, ouvir, ter mais paciência, repetir, repetir, repetir, estar aberto e saber motivar a pessoa de longe”, disse o presidente da empresa de turismo CVC, Leonel de Andrade, que completa agora um ano na empresa sem ter trabalhado um dia sequer presencialmente.

Além da CVC, foram ouvidos executivos das empresas Mundo Verde, Ri Happy, Sem Parar, GuardeAqui, Extrafarma, Omega, Lacoste e Gomes da Costa. Eles contam suas experiências e medidas que tomaram para lidar com o comando à distância. Marcelo Bazzali, por exemplo, assumiu a presidência da rede de farmácias Extrafarma, do Grupo Ultra, num momento em que o número de mortes pela covid-19 estava em queda, então acabou conseguindo realizar algumas viagens e conhecer parte da equipe. Com os números voltando a subir, um novo posicionamento foi tomado, e ele conta que teve que elaborar uma nova cultura para o cenário que se desenhava, dando ainda mais voz a gerentes e farmacêuticos. “A ideia é dar poder de decisão para quem está na ponta da operação. Como diminuímos a velocidade de visitas nas lojas por parte de gerentes regionais e diretores, decidimos que esses profissionais precisam ser cada vez mais protagonistas na operação”, disse Bazzali. Para isso, foram oferecidos cursos online para desenvolver a capacidade de gerenciamento e dar condições para o profissional resolver atritos e tomar decisões.

As mudanças não são rápidas e algumas pedras vão aparecer pelo caminho. É preciso se preparar para tomar decisões e mudar rotas. Pensando nos mecanismos de defesa criados pelo nosso cérebro, a adequação aos ambientes tem relação direta com o espaço e as percepções de visão e cheiro, por exemplo. Os neurocientistas Edward Ziff e Elisabete Castelon Konkiewitz explicam este processo de construção de realidade a partir da mudança constante dos estímulos do ambiente: “É preciso que o cérebro encontre estratégias para estabilizar o ambiente que representa. Ele cria, além do sentido da visão, incluindo a cor e a capacidade de reconhecer os objetos familiares, o sentido da audição com a capacidade de reconhecer os sons diversos incluindo a linguagem. Cria o sentido do cheiro, incluindo a capacidade de distinguir o que é agradável e o que é repelente. Cria a sensação de toque, incluindo a discriminação entre dor e prazer. Por exemplo, o produto químico, 8-metil-N-vanilil-6-nonenamida (capsaicina), cria a sensação de calor, e o produto químico benzoilmetilecgonina (cocaína) cria a sensação de bem estar. Estas sensações são invenções do cérebro”.

Sinal de que o que sentimos presencialmente interfere nas nossas percepções de realidade. Ao não se conectar com as pessoas, o cérebro irá criar uma experiência diferente ao encontrar o outro ou apenas enxergá-lo pela tela. Numa cadeira nova, em outro país, um executivo conta que por não ter viajado ainda, atuando do Brasil, liderando uma equipe que tem outros costumes, a dificuldade de encontrar esta conexão é enorme. “Você perde muito do olho no olho que não é igual quando se tem uma tela no meio. Não tem o sentimento, a energia que temos presencialmente. Se adaptar à distância em um país que você nunca sentiu o cheiro, não compartilhou hábitos e não teve a chance de depois de um dia de trabalho sentar e tomar uma cerveja com seus pares é um desafio gigantesco”, conta ele.

Do lado das empresas, o trabalho deve ser intensificado no aperfeiçoamento da cultura, com adaptação e inovação, e disseminá-la da melhor forma, reforçando a comunicação e a preocupação com a saúde mental de todos os colaboradores.

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